quarta-feira, 14 de julho de 2010

Cinema no Brasil volta a ERA DA MONOCULTURA

Recebi esse texto hoje, postado pela Maria do Rosário Caetano em seu blog ALMANAKITO
MONOCULTURA!!!
Apenas três filmes (norte-americanos) estão ocupando 95% do mercado brasileiro: Shrek, Eclipse e Toy Story. O primeiro com 49%, o segundo com 32% e o terceiro com quase 14% do espaço. Será que haverá circuito para "O Bem Amado"? Já soube que "Ponyo" e outros filmes infantis estão à mingua: sem salas......

quarta-feira, 23 de junho de 2010

DOCUMENTARIO E ARTE E POESIA E DE QUEBRA, SACODE O MUNDO

Por Silvio Tendler
" Sou ligado ao cinema documental e, mais recentemente, ao jornalismo,
atividades que, se não são propriamente artísticas, decerto existem na
fronteira da criação. Jornalismo não é literatura nem documentário é
cinema de ficção. Nosso capital simbólico é muito menor e nosso horizonte depossibilidades é limitado pelos constrangimentos do mundo concreto.
Não podemos voar tanto, e essa é a primeira razão pela qual, com notáveis
exceções, o que produzimos é efêmero, sem grande chance de permanência."
JOÃO MOREIRA SALLES* in
*Um documentarista se dirige a cientistas*
ensaio, derivado da participação do documentarista João Moreira
Salles em simpósio da Academia Brasileira de Ciências
Recebi esse texto numa lista de cineastas cearenses e fiquei pasmo com o que li.
Escrevi:"Será que João nunca leu "Os Sertões "de Euclides da Cunha, originalmente
uma série de reportagens para o Estadão ou não terá assistido Nanouk de Flaherty,
A Chuva de Joris Ivens, O Homem e a Câmera de Dziga Vertov, muitos dos filmes
de Chris Marker?
Apaixonado pelas reportagens de Robert Drew fechou os olhos ao bom cinema
documentário de poesia e agora pretende transformar ignorância em ciência"

O cineasta Duarte Dias acrescentou:
"Concordo com você.E só para aumentar um pouquinho a lista de exemplos, cito os nomes de Tom
Wolf, Truman Capote e Norman Mailer, sendo este último o responsável direto
pela feitura de um documentário de longa-metragem ganhador do Oscar: "When
We Were Kings", de Leon Gast, que saiu no Brasil com o título de "Quando
Éramos Reis".


Voltei a carga:
"Vamos apimentar a lista de documentários de poesia: Que tal o ciclo da Paraíba, começando com "Aruanda"de Linduarte Noronha. depoiis "A Cabra" na Região Semi Árida de Rucker Vieira. Tomamos um atalho e vamos direto para "A Bolandeira"de Wladimir Carvalho". Que tal uma pitdinha do ciclo do Farkas, Brasil Verdade.para concluir digo que os documentários são feitos com maestria e arte, informação e poesia.
Não acredito que João desconheça esses filmes até porque dá aulas na mesma Universidade que eu (PUC-RJ) e pegaria mal para nós ter um professor de documentários que desconheça a matéria.

O documentario é poesia em estado puro injetada direto na veia, entrando no corpo via o coração até atingir o cérebro. Castro Alves já escreveu em 1871: "O Povo é mais sentimento do que idéia...Moralizar com a lira é o fim mais augusto e sublime da poesia". E se documentário é poesia, cumprindo a profecia de Castro Alves o documentário sacoleja as estruturas e age como antídoto a um mundo estagnado e preconeituoso.
Nunca é demais citar "Corações e Mentes"de Peter Davis ou "Now"de Santiago Alvarez. Vejam "O Engenho de Zé Lins" ou revejam "O Evangelho de Teotônio", ambos de Wladimir Carvalho (o maior poeta do cinema brasileiro) e verão que nada ficamos a dever a boa poesia escrita. Wladimir é o João Cabral de Mello Netto do cinema brasileiro.

Sem esquecer os curtas de Sérgio Santeiro e sem complexo de inferiorioridade em relação a outras artes e ciências, navega o cinema documentário, garboso, sacolejando, limpando o mundo das poeiras das mediocridades.

QUEREMOS A GERAL DO CINEMA OLYMPIA


Durante a primeira edição do Festival de Jericoacoara de Cinema Digital — ocorrida de 09 a 13 de junho de 2010 —, cineastas, intelectuais, estudantes, produtores, cineclubistas, artistas, técnicos e representantes de entidades da área do audiovisual, por ocasião do Seminário “A Tecnologia Digital e o Futuro do Cinema”, chegaram à conclusão de que o Cinema Brasileiro somente terá futuro se as obras realizadas pelos brasileiros se tornarem conhecidas dos brasileiros.

Partindo dessa premissa, e para efeito de sistematização, foram diagnosticados cinco problemas cruciais no Brasil, quais sejam:

  1. Há, no País, escassez de salas de exibição — que, além de concentradas nas capitais, encontram-se reduzidas à metade das existentes há vinte anos.Como agravante, a grande maioria desses equipamentos se localiza dentro de shoppings — fato que afasta as classes e camadas mais pobres, compromete e desvirtua a natureza do espetáculo cinematográfico, restringindo praticamente sua existência a blockbusters milionários.
  2. A cota de tela do cinema brasileiro nas mencionadas salas de exibição, que já chegou a 180 dias anuais, hoje está resumida a vinte e oito dias, impedindo que a grande maioria dos filmes produzidos em nosso País chegue ao chamado circuito comercial.
  3. Os filmes de curta metragem — de exibição obrigatória assegurada na legislação —, além de não contar com o reconhecimento e respeito dos exibidores, também não contam com a efetiva fiscalização do Poder Público, limitando sua circulação praticamente ao circuito brasileiro de festivais e à rede de exibição cineclubista.
  4. As televisões, notadamente aquelas de perfil público, ainda não possuem uma política que vise, de forma sistemática e contínua, a incorporação nas suas grades de programação das produções qualificadas como independentes.
  5. Verifica-se a ausência, na grande maioria dos estados brasileiros, de uma política efetiva e continuada — via editais públicos e outros mecanismos — de apoio ao setor audiovisual nos elos da Produção, Difusão, Formação e Preservação.

Neste ambiente, visando à resolução do leque de problemas verificados, destacam-se as seguintes proposições:

  1. A efetivação das propostas de política pública para o setor audiovisual oriundas da Pré-Conferência do Audiovisual e da Conferência Nacional de Cultura.
  2. O retorno da cota de tela de 180 dias para a produção brasileira no circuito comercial de exibição.
  3. A implantação de rede nas salas de cinemas, a preços populares — com matriz digital —, em todos os municípios e nos bairros de periferia, com garantias de prevalência da exibição da produção audiovisual brasileira.
  4. A aprovação e implantação de proposição legislativa que vise à exibição de filmes brasileiros nas escolas.
  5. A necessidade de se estabelecer parceria entre o Governo Federal, os governos estaduais e municipais, via editais públicos, que vise à regionalização de verbas de fomento para o setor audiovisual, a exemplo de outras bem sucedidas ações — Programa DocTV, NPDs e Cine Mais Cultura.
  6. O reconhecimento pela ANCINE do público que transcende o circuito das salas comerciais, aficionado em cineclubes, escolas, sindicatos, museus, centros comunitários, culturais e outros equipamentos, devolvendo ao cinema sua função social mais abrangente — em contraponto ao critério único de entretenimento e de mercado adotado hoje no País.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Plataforma Cultura contra a Impunidade

Prezados:
Filmedoc está de volta depois de meses lançando Utopia e Barbárie.
Não estamos sós. Nossos irmãos espanhóis estão na mesma luta pelo restabeleicimento da verdade e contra o esquecimento dos crimes fascistas na Espanha. E estamos bem acompanhados. O Juiz Baltazar Garzón (aquele que fez prender Pinochet) é parceiro nessa luta e foi punido com a perda do cargo por tentar revirar os crimes fascistas na Espanha.
Agora o cineasta Pedro Amodóvar atua num curta espanhol fazendo o papel de um aviador, o primeiro militar assassinado pelos fascistas por resistir ao golpe.
A história segue abaixo. A luta continua.
Abraços
Silvio Tendler

Almodóvar interpreta vítima do franquismo em curta metragem sobre s desaparecidos na Espanha.
O cineasta espanhol Pedro Almodóvar interpreta o papel de uma vítima da ditadura franquista no curta metragem Cultura contra a Impunidade. O filme trata do drama de assassinados durante a ditadura Franquista, cujas famílias seguem esperando por justiça até os dias de hoje.
O grupo de 15 artistas espanhóis que participam do filme inclui outro vencedor do Oscar, Javier Bardem. Os artistas, interpretam personagens reais assassinados entre os anos 30 e 50.
O grupo trabalhou gratuitamente sob a direção de Azucena Rodriguez.
Iniciativa semelhante foi adotada no Brasil sob a forma de chamadas de televisão feitas para a OAB e envolveu artistas como Fernda Montengro e Osmar Prado.
O objetivo é esclarecer a população sobre a realidade das famílias das vítimas e o regime de terror durante as ditaduras no Brasil e na Espanha. A campanha de "Direito a Memória e a Verdade"lá e cá tem como objetivo a busca de parentes desaparecidos, enterrados em fossas comuns e os corpos , passados tantos anos ainda não foram localizados e identificados para serem sepultados dignamente.
O filme produzido pela Associação para a Recuperação da Memória Histórica, ONG trabalha sobre os direitos dos familiares de desaparecidos.

EntradaX


São 15 relatos de 40 segundos cada um. Pedro Almodóvar interpreta o aviador Virgilio Leret Ruiz, primeiro militar assassinado no golpe de 1936, logo no início da Guerra Civil Espanhola.
O militar foi assasinado por não aderir ao golpe militar e fuzilado por militares golpistas, companheiros de quartel, covardemente, sem direito a defesa. Seu corpo desapareceu e seus familiares ainda procuram seu corpo.
Almodóvar,declarou que "a Espanha tem uma dívida moral com as milhares de famílias das vítimas" e acrescenta: "Foi uma experiência muito emocionante poder dar, humildemente, voz ao primeiro militar assassinado por não apoiar a sublevação franquista. Não é uma questão política, é uma questão humana."
Para outro dos artistas que participou do filme, o ator Paco León, teve um componente pessoal. León interpreta bisavô, assassinado e desaparecido há mais de 70 anos.
A diretora, Azucena Rodriguez, disse que a Plataforma Cultura contra a Impunidade (grupo de artistas engajados na causa das vítimas do franquismo) produziu o filme como um protesto "que desperte a sociedade".
Tal qual ocorereu no Brasil Azucena disse :"Queremos dar visibilidade às vítimas do franquismo, colocar rostos e vozes reconhecíveis nos protagonistas da grande tragédia coletiva, cuja memória o Estado espanholnão foi capaz de assumir depois de 30 anos de democracia."

Fonte:BBC Brasil + Silvio Tendler inc

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O cinema independente nos EUA se renova

FILMEDOC nasceu para incentivar o debate das idéias. Uma série de artigos foram publicados sobre a relação do Cinema Independente e o mercado, STEVE SOLOT, ex-vice-presidente da MPAA e atual presidente da RioFilm Comission escreveu uma resposta ao artigo do Cineasta JOEL ZITO ARAUJO que transcrevo a seguir.
Silvio Tendler



" Escrevo em função da referência do Joel Zito Araújo à minha afirmação de que “Desde 2005, o cinema independente lança mais filmes anualmente no mercado norte-americano do que o seu cinema industrial”.
Efetivamente, desde 2005 o market share de lançamentos de filmes dos independentes vem crescendo de 64% a 73% em 2008 (448 de um total de 610 lançamentos), uma tendência que deve continuar em 2010. Além disso, como um sinal de força significativo, no ranking das indicações para o Oscar 2010, os filmes produzidos por independentes ultrapassaram os das majors (79 vs. 42).
Mas é importante esclarecer que o apoio nos EUA às indies não está limitado às chamadas fundações filantrópicas, como Ford, Kellog e MacArthur Foundation, nem ao PBS ou mesmo ao financiamento comercial do Sundance Institute. O apoio à indústria independente existe formalmente no setor privado através da Independent Film & Television Alliance-IFTA e da Indepedent Feature Project-IFP, que mantêm múltiplos programas de treinamento e contatos para co-produção e distribuição através dos reconhecidos eventos e mercados: American Film Market e o Independent Feature Week, respectivamente.
Outro fator de importância crescente são os benefícios fiscais oferecidos na famosa Seção 181 do Regulamento da Receita Federal (IRS), que foi incluído no Ato de Energia Renovável e Criação de Emprego de 2008 (Renewable Energy and Job Creation Tax Act of 2008). Esta lei foi uma reação do Congresso norte-americano ao fenômeno conhecido como “a fuga de produção” (Runaway Production), exemplificado por um filme ou série de TV produzido por empresa norte-americana e que normalmente seria filmado nos EUA, mas que “foge” para ser produzido em locação estrangeira mais barata.
A Seção 181 está destinada especificamente à produção independente de baixo orçamento (menos de US$15M) filmada nos EUA. No entanto, são poucos produtores independentes que sabem aproveitar o mecanismo, que permite deduzir do imposto de renda devido recursos investidos num filme ou programa de TV.
O mesmo ocorre em relação aos múltiplos benefícios fiscais oferecidos de forma competitiva pelas Film Commissions nos EUA. Em 2009, 44 dos 50 estados ofereciam programas significativos de incentivos para produção audiovisual. Esta guerra fiscal entre estados para oferecer cada vez mais benefícios tem conseguido manter muita produção audiovisual dos EUA dentro das fronteiras do país, mas tem levado a exageros como o caso notório do estado de Michigan, onde os produtores conseguem receber mais em benefícios fiscais que o orçamento gasto no estado. Vide o exemplo de Michael Moore, que aproveitou o mecanismo para produzir em Michigan seu último filme, ironicamente intitulado “Capitalism: A Love Story”.
Mas no atual caso emblemático de uma produção independente concorrendo com uma superprodução dos estúdios, “Guerra ao Terror” vs. “Avatar”, o último contou com um apoio considerado “desleal” por críticos na forma de um subsídio direto de US$ 45 milhões do governo da Nova Zelândia para a produção no país de seqüências do filme de James Cameron (orçamento total entre US$ 300 e US$ 500 milhões), enquanto o orçamento total do filme da sua “ex”, Kathryn Bigelow, não passou de US$ 15 milhões.
Finalmente, com o colapso em 2007 do modelo tradicional de distribuição de filme independente norte-americano (Mark Gill, IndieWire 6/2008), os independentes estão cada vez mais repensando o modelo de negócios e concluindo que a produção do filme começa com uma alternativa ao lançamento em theatrical (vide o novo livro de Jon Reiss, “Think Outside The Box (Office): The Ultimate Guide to Film Distribution in the Digital Era”).
Em resumo, como comentou Joel Zito, o mecanismo de produção cinematográfica nos States é muito mais complexo do que a chamada produção industrial de Hollywood. Mas, os independentes, para sobreviver, estão cada vez mais agressivos e competitivos na oferta da diversidade de expressão audiovisual, e com um resultado positivo pelo mercado. Talvez existam ali um ou mais exemplos a serem estudados pela indústria brasileira."
Steve Solot
Presidente, Rio Film Commission
Ex-Vice-presidente da Motion Picture Association

domingo, 31 de janeiro de 2010

O modelo norte-americano e as efemérides

Joel Zito de Araujo escreveu:


"Creio que é o momento da ABRACI endossar as ponderações fundamentais dos nossos bravos guerreiros, Lucia, Murilo, Silvio e Zé, que confirmam as importantes reflexões de Domingos de Oliveira. E buscar dar o máximo de visibilidade para esse debate. Quem sabe assim não conseguimos alterar essa rota tão desastrosa que vivemos no que se refere à política da Ancine e da Riofilme.
Vou meter a minha colher de pau, tomando o exemplo dos Estados Unidos, que conheço um pouco, para chamar a atenção da falta de "exemplos" consistentes para fundamentar os que são a favor de uma monocultura de mercado para a política cinematográfica brasileira.
O mecanismo de produção cinematográfica nos States é mto mais complexo do que a chamada produção industrial de Hollywood. É um sistema que também se preocupa em alimentar a criação de novos cineastas, novas tendências, novas linguagens, novos estilos. Além de também dar suporte para a produção independente, onde nasceu figuras fundamentais como Spike Lee e tantos outros.
Desde 2005, o cinema independente lança mais filmes anualmente no mercado norte-americano do que o seu cinema industrial (afirmação de Steve Solot).
É por isso que existem o Sundance Film Festival e o Sundance Institute. Que além do festival, apoiam financeiramente novas produções independentes, compram filmes e tem TV a cabo própria, o Sundunce Channel, uma joint venture com a Universal Studios e a CBS.
Mas existe muito mais. Tem as fundações filantrópicas - Ford Foundation, John and Catherine MacArthur Foundation, Kellogs e tantas outras que financiam a fundo perdido produções independentes, com valor artístico. Tem os grandes museus que também dão suporte para produções independentes. E todas elas são geridas por profissionais reconhecidos pelo mercado e pelo meio artístico. Não são fundações familiares como os nomes podem sugerir. Tem regras públicas, vigiadas e punidas qdo desrespeitadas.
E tem as PBS - Public Broadcastng Service, as televisões públicas, que também apoiam e compram documentários, filmes independentes, séries. Lá não tem Ministério da Cultura mas tem as PBS.
Tem a HBO, e as grandes redes que compram regularmente a produção independente, especialmente séries e sitcoms. E é nelas que muitas vezes se preparam cineastas diretamente para a grande indústria blockbuster de Hollywood. É uma éspecie de segunda etapa, depois das PBS e das produções apoiadas pelos filantropos.
Entretanto, precisamos entender que filantropia é parte do sistema de vida norte-americano. É parte da idéia de cidadania deles. É parte do orgulho de mtos capitalistas que querem ser reconhecidos pela sociedade como benfeitores, e não apenas como exploradores. Essa coisa de um pensamento politicamente correto tão criticado por aqui. Embora já tenhamos alguns poucos exemplos de capitalistas com essa mentalidade. Embora com ações um tanto personalistas.
É, portanto, um sistema inteligente que prepara aqueles que querem atuar de forma eficiente para a grande indústria. E que, ao mesmo tempo, alimenta aqueles que não sonham em ser parte do cinema industrial, e querem sua independência para produzir reflexões importantes, produtos artísticos inovadores e um olhar distanciado da mass midia.
Se é para copiar o modelo de mercado norte-americano, que se copie o sistema como um todo. E não somente aquela ponta industrial que tem o mercado do planeta a seus pés. E atua com a retaguarda do congresso e da diplomacia norte-americana, e do pentágono se for preciso, para sustentar a "liberdade de mercado" para os seus produtos.
Já estamos cansados de ouvir afirmativas equivocadas, e até mesmo destrutivas, do tipo: "filme bom é filme blockbuster", "é a bilheteria que demonstra se o filme foi feito para o público ou não", ou "as produtoras pequenas vão desaparecer se não se associarem às grandes" (essa última saiu recentemente em Atibaia).
É hora de mudar!
Espero que nossos gestores públicos tenham a sensibilidade e o jogo de cintura para mudar a rota dos seus vôos que não parecem oferecer assentos para a maioria dos cineastas brasileiros. Nem para figuras fundamentais para o nosso cinema como Lucia Murat, José Joffily, Murilo Salles e Domingos de Oliveira."

Joel Zito Araújo

Cota de Tela X Reserva de Mercado

Artigo que publiquei no JB.
S.T.

1- Target, gap, pitching, modêlo de negócios. Não, não estamos numa
aula de inglês ou de administração. estamos falando de cinema. No Brasil

2-Volta e meio encontro alguém que me pergunta| "porque você não faz um
filme sobre isso" e sugere um tema que já filmei?. E não apenas eu mas
vários filmes já foram feitos e que circularam premiadíssimos em
festivais mas que não conseguem cumprir seu
destino, do encontro marcado com os espectadores numa sala de
exibição deixando frustrados cineastas e espectadores.

As duas mil salas de cinema do Brasil tem a obrigação de durante 28 dias
por ano exibir filmes brasileiros.Estes
28 dias devem ser divididos no minimo por dois filmes o que assegura
duas semanas de exibição por ano por filme e acabou. Quem colocou
colocou. Quem não colocou não coloca mais . Trocando em miúdos
significa que dois filmes exibidos durante duas semanas cada um nas salas de
exibição cumprem a lei que beneficiaria o cinema brasileiro como um todo.
Medida anódina, placebo estéril que na verdade
revela que o cinema estrangeiro tem aqui uma reserva de mercado assegurada
de 337 dias por ano. Se o ano for bisexto 338 dias. Nós contiuamos
olímpicos com nossos 28 dias. O que eles não
utilizarem,volta pra nós então. No final dos anos 80 chegamos a ter
uma cota de tela de 152 dias por ano, que foi extinta quando
chegou-se a conclusão que nacionalismo era pecado e proteção aà
industria, mesmo a cultural era um crime contra a abertura dos portos
às nações amigas.
Adoramos macaquear tudo o que vem de fora exceção das coisas que dão certo
Os Estados Unidos tem a MPA, lobbysta intransigente do cinema
norte-americano e onde Hollywwood sente-se ameaçada ou eles respondem
com retaliação econômica ou em caso extremo desembarcam os marines (
de verdade, em carne e osso ou de cinema). A França faz do audiovisual
um cartão de visitas do país e defende a exceção cultural dentro do
tratado de livre comércio para proteger sua indústria cultural. No
Brasil ainda estamos no meio do caminho.
Hoje são míseros 28 dias incapazes de resolver os problemas do cinema
nacional o tamanho de nosso latifundio nas telas nacionais.

Nesta caminhada, nos perdemos nos labirintos da linguagem e
desaprendemos a nos estruturar com uma linguagem propria. O cinema
Argentino está bem melhor no que tange em relação com a realidade.
O que fazer então com os inúmeros filmes produzidos a cada ano? Como
imprimir nossa realidade nas telas brasileiras? Como enfrentar dois
filmes lançados com mais de 500 copias cada um ocupando juntos e de
uma só vez 95% das salas brasileiras? Como tornar visíveis filmes no
Brasil que sobrevivem enfrentando espremidos os "arraza
quarteirões"(blockbusters para os íontimos) que chegam montados em
farta midia
internacional e bombando na midia nacional?

Hoje temos muito mais perguntas do que respostas. Uma coisa é certa:
temos filmes e autores capazes de caminhar com as proprias pernas,
enfrentando com nossa realidade e tenacidade o desafio de imprimir uma
realidade e um ponto de vista nosso que só nos podemos colocar. Nos
pertence.nossas imagens em telas!!. Pode parecer contraditorio com o
dito no parágrafo anterior e extremamente nacionalista, extemporâneo
numa cultura globalizante mas se não é de contradições que se nutre a
arte, qual será seu alimento principal?

Mesmo com apenas 28 dias de cota de tela é bom fazer cinema no Brasil.