domingo, 31 de janeiro de 2010

O modelo norte-americano e as efemérides

Joel Zito de Araujo escreveu:


"Creio que é o momento da ABRACI endossar as ponderações fundamentais dos nossos bravos guerreiros, Lucia, Murilo, Silvio e Zé, que confirmam as importantes reflexões de Domingos de Oliveira. E buscar dar o máximo de visibilidade para esse debate. Quem sabe assim não conseguimos alterar essa rota tão desastrosa que vivemos no que se refere à política da Ancine e da Riofilme.
Vou meter a minha colher de pau, tomando o exemplo dos Estados Unidos, que conheço um pouco, para chamar a atenção da falta de "exemplos" consistentes para fundamentar os que são a favor de uma monocultura de mercado para a política cinematográfica brasileira.
O mecanismo de produção cinematográfica nos States é mto mais complexo do que a chamada produção industrial de Hollywood. É um sistema que também se preocupa em alimentar a criação de novos cineastas, novas tendências, novas linguagens, novos estilos. Além de também dar suporte para a produção independente, onde nasceu figuras fundamentais como Spike Lee e tantos outros.
Desde 2005, o cinema independente lança mais filmes anualmente no mercado norte-americano do que o seu cinema industrial (afirmação de Steve Solot).
É por isso que existem o Sundance Film Festival e o Sundance Institute. Que além do festival, apoiam financeiramente novas produções independentes, compram filmes e tem TV a cabo própria, o Sundunce Channel, uma joint venture com a Universal Studios e a CBS.
Mas existe muito mais. Tem as fundações filantrópicas - Ford Foundation, John and Catherine MacArthur Foundation, Kellogs e tantas outras que financiam a fundo perdido produções independentes, com valor artístico. Tem os grandes museus que também dão suporte para produções independentes. E todas elas são geridas por profissionais reconhecidos pelo mercado e pelo meio artístico. Não são fundações familiares como os nomes podem sugerir. Tem regras públicas, vigiadas e punidas qdo desrespeitadas.
E tem as PBS - Public Broadcastng Service, as televisões públicas, que também apoiam e compram documentários, filmes independentes, séries. Lá não tem Ministério da Cultura mas tem as PBS.
Tem a HBO, e as grandes redes que compram regularmente a produção independente, especialmente séries e sitcoms. E é nelas que muitas vezes se preparam cineastas diretamente para a grande indústria blockbuster de Hollywood. É uma éspecie de segunda etapa, depois das PBS e das produções apoiadas pelos filantropos.
Entretanto, precisamos entender que filantropia é parte do sistema de vida norte-americano. É parte da idéia de cidadania deles. É parte do orgulho de mtos capitalistas que querem ser reconhecidos pela sociedade como benfeitores, e não apenas como exploradores. Essa coisa de um pensamento politicamente correto tão criticado por aqui. Embora já tenhamos alguns poucos exemplos de capitalistas com essa mentalidade. Embora com ações um tanto personalistas.
É, portanto, um sistema inteligente que prepara aqueles que querem atuar de forma eficiente para a grande indústria. E que, ao mesmo tempo, alimenta aqueles que não sonham em ser parte do cinema industrial, e querem sua independência para produzir reflexões importantes, produtos artísticos inovadores e um olhar distanciado da mass midia.
Se é para copiar o modelo de mercado norte-americano, que se copie o sistema como um todo. E não somente aquela ponta industrial que tem o mercado do planeta a seus pés. E atua com a retaguarda do congresso e da diplomacia norte-americana, e do pentágono se for preciso, para sustentar a "liberdade de mercado" para os seus produtos.
Já estamos cansados de ouvir afirmativas equivocadas, e até mesmo destrutivas, do tipo: "filme bom é filme blockbuster", "é a bilheteria que demonstra se o filme foi feito para o público ou não", ou "as produtoras pequenas vão desaparecer se não se associarem às grandes" (essa última saiu recentemente em Atibaia).
É hora de mudar!
Espero que nossos gestores públicos tenham a sensibilidade e o jogo de cintura para mudar a rota dos seus vôos que não parecem oferecer assentos para a maioria dos cineastas brasileiros. Nem para figuras fundamentais para o nosso cinema como Lucia Murat, José Joffily, Murilo Salles e Domingos de Oliveira."

Joel Zito Araújo

Cota de Tela X Reserva de Mercado

Artigo que publiquei no JB.
S.T.

1- Target, gap, pitching, modêlo de negócios. Não, não estamos numa
aula de inglês ou de administração. estamos falando de cinema. No Brasil

2-Volta e meio encontro alguém que me pergunta| "porque você não faz um
filme sobre isso" e sugere um tema que já filmei?. E não apenas eu mas
vários filmes já foram feitos e que circularam premiadíssimos em
festivais mas que não conseguem cumprir seu
destino, do encontro marcado com os espectadores numa sala de
exibição deixando frustrados cineastas e espectadores.

As duas mil salas de cinema do Brasil tem a obrigação de durante 28 dias
por ano exibir filmes brasileiros.Estes
28 dias devem ser divididos no minimo por dois filmes o que assegura
duas semanas de exibição por ano por filme e acabou. Quem colocou
colocou. Quem não colocou não coloca mais . Trocando em miúdos
significa que dois filmes exibidos durante duas semanas cada um nas salas de
exibição cumprem a lei que beneficiaria o cinema brasileiro como um todo.
Medida anódina, placebo estéril que na verdade
revela que o cinema estrangeiro tem aqui uma reserva de mercado assegurada
de 337 dias por ano. Se o ano for bisexto 338 dias. Nós contiuamos
olímpicos com nossos 28 dias. O que eles não
utilizarem,volta pra nós então. No final dos anos 80 chegamos a ter
uma cota de tela de 152 dias por ano, que foi extinta quando
chegou-se a conclusão que nacionalismo era pecado e proteção aà
industria, mesmo a cultural era um crime contra a abertura dos portos
às nações amigas.
Adoramos macaquear tudo o que vem de fora exceção das coisas que dão certo
Os Estados Unidos tem a MPA, lobbysta intransigente do cinema
norte-americano e onde Hollywwood sente-se ameaçada ou eles respondem
com retaliação econômica ou em caso extremo desembarcam os marines (
de verdade, em carne e osso ou de cinema). A França faz do audiovisual
um cartão de visitas do país e defende a exceção cultural dentro do
tratado de livre comércio para proteger sua indústria cultural. No
Brasil ainda estamos no meio do caminho.
Hoje são míseros 28 dias incapazes de resolver os problemas do cinema
nacional o tamanho de nosso latifundio nas telas nacionais.

Nesta caminhada, nos perdemos nos labirintos da linguagem e
desaprendemos a nos estruturar com uma linguagem propria. O cinema
Argentino está bem melhor no que tange em relação com a realidade.
O que fazer então com os inúmeros filmes produzidos a cada ano? Como
imprimir nossa realidade nas telas brasileiras? Como enfrentar dois
filmes lançados com mais de 500 copias cada um ocupando juntos e de
uma só vez 95% das salas brasileiras? Como tornar visíveis filmes no
Brasil que sobrevivem enfrentando espremidos os "arraza
quarteirões"(blockbusters para os íontimos) que chegam montados em
farta midia
internacional e bombando na midia nacional?

Hoje temos muito mais perguntas do que respostas. Uma coisa é certa:
temos filmes e autores capazes de caminhar com as proprias pernas,
enfrentando com nossa realidade e tenacidade o desafio de imprimir uma
realidade e um ponto de vista nosso que só nos podemos colocar. Nos
pertence.nossas imagens em telas!!. Pode parecer contraditorio com o
dito no parágrafo anterior e extremamente nacionalista, extemporâneo
numa cultura globalizante mas se não é de contradições que se nutre a
arte, qual será seu alimento principal?

Mesmo com apenas 28 dias de cota de tela é bom fazer cinema no Brasil.

Agora o papo tá ficando sério

Cansados do domínio da burocracia e de ter que fazer um jogo escroto para poder obter recursos para filmar, artistas começam a rebelar-se contra o discurso de incompetentes e despreparados
plantonistas que administram verbas públicas e dominam a política para propor a discussão sobre os verdadeiros valores do fazer cinema.
Aí vão dois artigos recentemente publicados em O Globo que vão ao cerne da questão.
Silvio Tendler


Deu no O Globo
Direito à diversidade
Em artigo, cineastas apoiam receita de Domingos Oliveira para salvar o
cinema brasileiro

Plantão | Publicada em 30/01/2010 às 09h37m
José Joffily, Murilo Salles e Lucia Murat*
RIO - O cineasta, dramaturgo e ator Domingos Oliveira, em seu artigo
na ultima quarta-feira no GLOBO , levantou questões importantes sobre
a atual situação do cinema brasileiro. Uma discussão fundamental que
deve continuar, pois esse cinema é de todos nós, espectadores e
cineastas. Não somente porque trata de investimento do setor público,
mas porque precisamos definir que cinema nós, brasileiros, queremos
fazer e ver. Para nós, trata-se basicamente de defender o direito à
diversidade.

"Domingos Oliveira tem toda razão quando afirma que não há indústria de
cinema no Brasil. Houve tentativas. Mas "indústria", na concepção da
economia clássica, não há. Não existe um "planejamento" industrial da
produção, e não temos "prateleiras" para o "produto", isto é, salas de
cinema. Como podemos dizer que há "mercado de cinema" se existem
apenas pouco mais de 2 300 salas de cinema no país! E se essas salas
são ocupadas em 85% do seu tempo pelo produto importado? E, se não há
qualquer legislação criando isonomia entre produto estrangeiro e
nacional, o que existe em qualquer outro setor industrial no Brasil? O
nosso circuito exibidor é concentrado, elitista e pratica uma política
de preço que inviabiliza o acesso da maior parte da população
brasileira às salas que existem. E, se não há mercado, não há
indústria possível. Respeitamos os movimentos institucionais que
desejam montar essa indústria, mas discordamos frontalmente da
monocultura como proposta.

Essencialmente, o que queremos dizer é que o cinema brasileiro deve
caminhar junto com o país, reproduzindo nas telas a pluralidade que é
nossa marca registrada, a nossa força. O Brasil precisa de seus
filmes, de seus pontos de vista variados, dessa diversidade, dessa
alteridade. E essa necessidade foi sempre atendida por visionários,
artistas, atores, técnicos, que proliferam talentosos e criativos por
todo o país. Nunca fomos reconhecidos pela "capacidade de produção da
indústria cinematográfica brasileira" ou pela qualidade de "gestão de
cinema no Brasil", mas, sim, pelo vigor da pluralidade de nossos
filmes

Estamos hoje submetidos a "business plans", "políticas de mercado" e
"planilhas de resultados". Tudo com a clara intenção de privilegiar os
filmes que pretensamente vão atingir o público. Ironicamente, esses
"pretensos filmes comerciais", realizados através de incentivos
fiscais, não são, como mostrou recente matéria no Segundo Caderno do
GLOBO, em sua grande maioria, lucrativos. Os gestores desse dinheiro
público mal aplicado acabam produzindo produtos híbridos, sem
identidade, que nem se propõem a trabalhar artisticamente, nem se
pagam, pois são arremessados, quando lançados, numa mentira chamada
"mercado".

Como resolver esse impasse? Não temos certeza, mas é preciso abrir
esta discussão e apontar desde já o farisaísmo tecnocrata por trás da
"política de mercado".

O cinema brasileiro existe por causa de seus grandes filmes, pelo
trabalho de seus cineastas, não pelo planejamento gestor de um
pensamento industrial. E hoje, para os realizadores que tentam
construir obras mais autorais, as dificuldades de conseguir recursos
são imensas. Como disse Domingos em seu artigo e vimos confirmar, está
cada vez mais difícil fazer filmes que sejam de conteúdo e tenham
alguma personalidade simbólica.

Em suma, concordamos inteiramente com Domingos Oliveira quando aponta
soluções em direção a um reinvestimento político e qualitativo da
imagem internacional do cinema brasileiro. Isso só se faz com filmes
bons, consistentes, de alta qualidade artística. E, por fim, a grande
questão: hoje a discussão da sala de cinema como solução para o
impasse do "mercado" pode soar como uma discussão bizantina. Não há
cinematografia bem-sucedida no mundo sem uma parceria efetiva da
televisão, no financiamento do cinema e na sua difusão. O resto são
efemérides."
*José Joffily, Lúcia Murat e Murilo Salles são cineastas

Agora o papo tá ficando sério II

"Para falar de cinema, é preciso primeiro concordar sobre o que ele é.
E sobre o que ele é no Brasil. O cinema é uma arte, antes de tudo. O
bem que ele fez à Humanidade em seus 100 anos de existência é
inegável. Por outro lado, nos países ricos, particularmente Estados
Unidos, Índia e Japão, o cinema é uma indústria. Não aqui, conforme
prova a reportagem de primeira página do Segundo Caderno do dia 17 de
janeiro .

Segundo esse artigo, o produtor não fica com mais de 5% do total da
bilheteria, e, por isso, nenhum filme brasileiro (com raríssimas
exceções) dá lucro ao produtor. Claro que alguns filmes, baseados em
fórmulas comprovadas anteriormente, fazem o seu lucro. Mas são
exceções que em geral não contribuem muito para a cultura do país e
seu renome no mundo. É evidente que há alguma coisa errada. Na base.
Temos uma lei até generosa (de renúncia fiscal). Se funcionasse.

Será realmente o cinema brasileiro uma indústria? Parece uma ofensa
fazer essa pergunta. Pessoalmente, respondo que não. Não temos para o
cinema uma vocação especial como temos para a música. E não temos
dinheiro, o país é pobre. O filme estrangeiro domina o mercado, e não
temos chance de competir, resumindo a melodia. Porém, não queria
discutir esse assunto. Quem quiser continuar a bater nessa tecla que
continue. É assunto para homens de negócios, e não para artistas.
Repito: que continue tudo como está. Embora errado.

" Sei que isso faz rir aqueles que, atrás de mesas, pensam que a
arte é supérflua e elitista. Não é. A arte é aquilo que lembra os
homens dos seus melhores valores "

Já fiz alguns filmes, não sei se o leitor os admira. Isso não importa.
É certo que me coloco no melhor nível do cinema brasileiro. E cada
vez, na medida em que tenho espaço, é mais difícil para mim fazer um
filme. Convenhamos: há alguma coisa errada. Na verdade, creio que está
tudo errado. Para que o cinema exista como atividade, todos concordam,
é preciso ganhar o mercado externo. E as TVs. Digo que estamos
caminhando na estrada errada. Não é necessário que um país pobre como
o nosso gaste tanto dinheiro em entretenimento. Não é necessário fazer
filmes no Brasil. É necessário fazer bons filmes no Brasil, este é o
ponto aonde eu queria chegar. O cinema brasileiro, representado por
alguns dos nossos competentes legisladores e ambiciosos produtores,
deve continuar seu caminho inglório de comprovados maus resultados.
Porém é urgente e imprescindível abrir a primeira página do Segundo
Caderno para defender uma outra viela. Esta, sim, promissora, cheia de
vida e esperança. Refiro-me ao filme de arte. Material básico não nos
falta. Ser brasileiro é ser artista. O filme de arte não é
necessariamente impopular. Basta lembrar Charles Chaplin, Scorsese e
muitos outros. Ele apenas nega o princípio de que o povo só ri de
piadas que já conhece. Isto é menosprezar o público. O cinema
brasileiro que quiser alcançar o povo brasileiro não terá que
perguntar o que ele quer, porque povo pobre não sabe o que quer. Terá
que dar-lhe o que ele precisa. De modo que aqui venho de novo defender
a criação urgente do Ministério da Arte.

Sei que isso faz rir aqueles que, atrás de mesas, pensam que a arte é
supérflua e elitista. Não é. A arte é aquilo que lembra os homens dos
seus melhores valores. A honra, o amor, a dignidade etc. A arte é que
ensina o homem a lutar contra a corrupção, contra a discriminação,
contra a desigualdade social. E ela é boa nisso. Temos de fazer filmes
populares de arte. Ou até impopulares, porém de arte. Vejo o sorriso
zombeteiro do burocrata que só pensa nele e nas leis. "Mas como vamos
saber o que é um filme de arte? A coisa é muito subjetiva, etc." Que
comissão julgaria esses filmes de arte? A pergunta é absolutamente
inadequada. Mais que isso, é uma falácia imoral. Pensamentos
aparentemente corretos destroem tudo, como "violência atrai
violência", "os fins justificam os meios" e outros lemas do demônio. A
verdade é que qualquer criança, qualquer homem de bem, qualquer pessoa
séria, sabe imediatamente distinguir o que é arte e o que não é, o que
é o Bem e o Mal, o que é a Ordem ou Caos, o que é motivo de viver ou
morrer, o que faz crescer ou diminuir. Estaríamos perdidos se isso não
acontecesse.

Claro que as comissões que decidem rotineiramente desde que filmes
devem ser patrocinados até o orçamento nacional agem desprezando a
meritocracia e buscando a vantagem política ou financeira. Vivemos
tempos muito áridos, mas isso não precisa continuar assim por toda a
vida. O Ministério da Arte descobriria, através de uma comissão
competente e uma investigação ampla, quais os reais talentos do país,
quais são os roteiros mais próximos da perfeição e, mais importante
que isso, incentivaria a iniciativa pública, a iniciativa privada, a
fazer filmes com dinheiro do próprio bolso. Filmes baratos que, tendo
qualidade, seriam fartamente recompensados. Não quero perder tempo na
explicitação de como seria regulamentada uma política desse tipo,
porém quero afirmar que isso é facílimo. Que é barato também,
comparado com os milhões de gastos da Lei Rouanet cujo resultado pífio
os números demonstram. Nem tudo o que é antigo é falso. Antigamente
havia o Ministério da Educação e Cultura. Realmente, Cultura tem muito
mais a ver com a educação do que com a arte, com o passado do que com
o futuro.

" Quanto tempo mais é preciso continuar a dar um murro na ponta da
faca? Não deu certo o modelo brasileiro de cinema. É preciso arranjar
outro, colocar a imaginação no poder, pedir o impossível "

Assuntos importantes, como a preservação do patrimônio nacional, ou
das bibliotecas, ou da criação da ambicionada mas talvez utópica
indústria cinematográfica brasileira, devem continuar a ser
ardentemente considerados, porém a meta maior foi e sempre será a
arte. Foi daí que veio tudo e para lá deve voltar. Ninguém concordará
com esse manifesto que propõe um novo jogo, mais inteligente. Apesar
da imensa simpatia que nutro pela figura vital e máscula do nosso
atual ministro, ele luta em uma linha que a prática demonstrou ser
fracassada, já que nenhum filme brasileiro realmente se paga. Julgar
pelo resultado é um argumento forte, não pode ser varrido para debaixo
do tapete. Quanto tempo mais é preciso continuar a dar um murro na
ponta da faca? Não deu certo o modelo brasileiro de cinema. É preciso
arranjar outro, colocar a imaginação no poder, pedir o impossível - já
que somos homens razoáveis. Sei que essa colocação escorrerá pela
parede da burocracia, como se tivesse jogado um ovo ali. Não me
importa. Estou certo. Portanto, um dia, provavelmente depois da minha
morte, vencerei."

DOMINGOS OLIVEIRA é dramaturgo e cineasta

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

74% del planeta rechaza el capitalismo neoliberal

LUNES 4 DE ENERO DE 2010

Sorprendente encuesta global censurada: el 74% del planeta rechaza el capitalismo neoliberal

Ernesto Carmona (especial para ARGENPRESS.info)

Nueve de cada diez chilenos reclama la intervención del Estado en la redistribución de la riqueza, mientras 84% desea someter a control al capitalismo de libre mercado que encarnan empresarios de extrema derecha como el candidato Sebastián Piñera. Una encuesta global encargada por la BBC de Londres a la investigadora internacional de opinión GlobeScan reveló en noviembre que el 91% de las personas consultadas en Chile desean que su gobierno asuma un rol más activo en redistribuir más uniformemente la riqueza, mientras 5% se inclina por un rol menos activo y 3% prefiere dejar las cosas como están.

Los resultados de la encuesta no se difundieron en los grandes medios de Chile ni América Latina durante la fanfarria del 9 de noviembre por el 20º aniversario de la caída del Muro de Berlín simplemente porque muestran un rechazo universal de 74% al capitalismo neoliberal contemporáneo. El dogma del libre mercado tal como existe hoy sólo tuvo 11% de aceptación entre 29.033 personas encuestadas en 27 países (1). Quienes muestran mayor adhesión al capitalismo “realmente existente” son los encuestados de EEUU (25%)… y Pakistán (21%).

Los latinoamericanos son los más partidarios de un papel activo del gobierno en el funcionamiento de la economía. En México, 92% apoya una mejor distribución de la riqueza, 91% en Chile y 89% en Brasil. Las proporciones más altas por ver más activos a los gobiernos en la regulación de los negocios se dieron en Brasil (87%), Chile (84%), Francia (76%), España (73%), China (71%) y Rusia (68%).

Datos de Chile

Según el reporte detallado por países (2), los chilenos lideran en el mundo la postura por un gobierno más activo en el control del capitalismo salvaje: 9 de cada 10 ciudadanos piden más acción gubernamental en la redistribución de la riqueza (en segundo lugar está México), mientras otro alto porcentaje reclama más actividad de regulación del gobierno (en segundo lugar está Brasil). Y un áspero tres cuartos del total de encuestados en Chile -otra vez entre los más altos del mundo- opina que debe haber más control y propiedad gubernamental sobre la industria.

- Casi la mitad (48%) está de acuerdo en declarar que el capitalismo de mercado libre tiene problemas que se requiere resolver con más regulación y reformas, pero el 20% cree que se necesita un sistema distinto y apenas 5% estima que el mercado libre es aceptable sin cambios.
- Un 72% de chilenos encuestados aprueba más control gubernamental de industrias importantes, mientras 11% quiere menos control y 9% prefiere el nivel actual.
- 91% opina que su gobierno debe tener un rol más activo en la distribución uniforme de la riqueza, solamente 5% apoya un papel menos activo y 3% prefiere el rol actual.
- 84% pide una mayor presencia del gobierno en la actividad reguladora del capitalismo, mientras 9% clama por un rol menor y 3% apoya el papel actual.
- 59% cree que el colapso de la Unión Soviética fue positivo, mientras 11% estima que fue malo y 30% no ofreció respuestas.

La investigación en 27 países incluyó sólo a 5 de América Latina y cuyos gobiernos fomentan el neoliberalismo: Brasil, Chile, Costa Rica, México y Panamá. El resultado cayó como un balde a agua fría sobre los propagandistas del capitalismo, porque fue diametralmente opuesto al de la misma consulta realizada también por GlobeScan en 2005 en 20 países, que arrojó una mayoría de 63% favorable al capitalismo como el mejor sistema posible. El sondeo no sirvió para inflar la "Fiesta de la Libertad" en Berlín, pero tampoco exhibieron nostalgia por el desaparecido “socialismo real”.

El estudio, diseñado y encargado por la BBC, fue realizado por GlobeScan y el Programa de Actitudes Políticas Internacionales (PIPA, por su sigla en inglés) de la Universidad de Maryland, cuyo personal asociado interrogó cara a cara o por teléfono -entre el 19 de junio y el 13 de octubre de 2009- a los 29.033 encuestados en Australia, Brasil, Canadá, Chile, China, Costa Rica, República Checa, Egipto, Francia, Alemania, India, Indonesia, Italia, Japón, Kenya, México, Nigeria, Paquistán, Panamá, Filipinas, Polonia, Rusia, España, Turquía, Ucrania, Reino Unido y EEUU. El margen de error por país oscila entre +/- 2,2% y 3,5%.

Adiós al capitalismo neoliberal

La encuesta destapó un aplastante rechazo de 74% al actual capitalismo neoliberal. El 51% opina que el sistema de mercado libre tiene problemas que podrían enderezarse sólo con regulación y reformas, mientras el 23% sostiene lisa y llanamente que el capitalismo está herido de muerte y se requiere un nuevo sistema económico, como opina desde un 43% en Francia, 38% en México, 35% en el Brasil, 31% en Ucrania y 20% en Chile. Las mayorías desean que sus gobiernos sean más activos en la posesión o control directo de industrias importantes en 15 de los 27 países. Esta visión es más frecuente en los ex estados soviéticos de Rusia (77%) y Ucrania (75%), pero también en Brasil (64%), Indonesia (65%) y Francia (57%).

Una mayoría promedio de 67% en todos los países quiere que los gobiernos redistribuyan más uniformemente la riqueza, pero esta postura alcanza un porcentaje mayor en 22 de los 27 países encuestados. En 17 países quieren ver al gobierno haciendo más por regular los negocios, con un promedio mundial de 56%. Un 22% estimó que el colapso de la URSS tuvo efectos negativos, mientras un promedio de 54% votó que fue bueno, pero esta opinión fue mayoritaria sólo en 15 de los 27 países, en tanto 24% mundial dijo no saber. Entre los países del extinto Pacto de Varsovia, el 61% de los rusos y 54% de los ucranianos creen que la desintegración de la URSS fue una cosa mala, en cambio, 80% de los polacos y casi 63% de los checos estiman lo contrario.

El presidente de GlobeScan, Doug Miller, admitió: “En apariencia, la caída del Muro de Berlín en 1989 pudo no haber sido la victoria final del capitalismo de mercado que pareció entonces, particularmente después de los acontecimientos de los últimos 12 meses”. Steven Kull, del PIPA, dijo: “Algunos aspectos del socialismo, tales como los esfuerzos del gobierno para igualar la riqueza, continúan atrayendo a mucha gente en todo el mundo”. En otras palabras, no hubo “fin de la historia”.

Resultados en detalle

Para los europeos, la desintegración de la URSS fue algo bueno, con una gran mayoría en Alemania (79%), Reino Unido (76%) y Francia (74%). En EEUU piensa lo mismo el 81%, igual que en naciones desarrolladas como Australia (73%) y Canadá (73%). Lejos del occidente desarrollado esta opinión es distinta: 7 de cada 10 egipcios (69%) piensa que la desintegración de la URSS fue lamentable. En la India, el 28% piensa que tuvo efectos negativos y el 26% la aplaude, en Kenia fue algo malo para el 28% y bueno para el 26% y en Indonesia, mala cosa para el 31% y algo bueno para el 28%. Empero, también es alto el porcentaje de quienes dicen no saber. En China, el 50% estima que la desintegración fue buena y 21% que fue mala.

A pesar de tener perspectivas similares en cuestiones clave, franceses y alemanes discrepan cuando se trata del capitalismo de mercado libre. En Francia, el 47% cree que los problemas del capitalismo se pueden solucionar con regulación y reformas, mientras casi otro tanto, 43%, cree que está fatalmente condenado. En Alemania, en cambio, hay muy poco apoyo (8%) para otro sistema económico, con 74% confiando aún en que los problemas del capitalismo de mercado libre pueden resolverse.

El apoyo más bajo (9%) para redistribuir la riqueza se dio en Turquía. La mayoría de quienes no apoyan un mayor papel del gobierno en la economía está en Paquistán (66%), Polonia (61%), la India (60%) y EEUU (59%). Sólo en Turquía una mayoría (71%) piensa que el gobierno debe hacer menos por regular los negocios, pero también hay una oposición importante en Filipinas (47% se opone), Paquistán (36%), Nigeria (32%) e India (29%). La propiedad o el control directo del Estado sobre las industrias resultó con más oposición en EEUU (52%), Alemania (50%), Turquía (71%) y Filipinas (54%).

Demás resultados de América Latina

Brasil es el país en que una aplastante mayoría (87%) reclamó un papel más activo del gobierno en la actividad regulatoria. También tiene la tercera mayoría que pide un rol más relevante del gobierno en la redistribución de la riqueza, detrás de México y Chile.

- 78% de los encuestados resultó contrario al neoliberalismo: 43% dice que el capitalismo tiene defectos que requieren más regulación y reformas, pero el 35% cree que se necesita un sistema diferente. Sólo 8% cree que el capitalismo funciona muy bien sin la acción gubernamental.
- 89% clama por una mayor acción gubernamental en la distribución más uniforme de la riqueza, mientras que sólo 7% no demanda cambio alguno y 2% reclama menos acción gubernamental.
- 64% apoya un papel más activo del gobierno en la posesión o control de industrias importantes, mientras 17% dice que debe mantener el mismo rol que ahora y 13% se inclina por disminuirlo.
- 87% reclama más regulación gubernamental de los negocios, 7% se inclina porque siga igual y 2% pide menos.

Costa Rica está entre las mayorías más favorable al colapso de la URSS entre el público latinoamericano. Los costarricenses son los más proclives a salvar el capitalismo de mercado libre con regulación en su región.

- 52% cree que los problemas del capitalismo se pueden resolver con regulación y reformas, mientras 25% reclama otro sistema y 10% afirma que el capitalismo está bien y más reglas disminuirían su eficacia.
- 61% cree que su gobierno debe adoptar un papel más activo en controlar industrias importantes, 22% cree que el gobierno debe ser menos activo y 13% cree que debe mantenerse sin cambios.
- 82% piensa que el gobierno debe ser más activo en la redistribución de la riqueza, 12% cree que debe ser menos activo y 4% dice que debe seguir igual que en el presente.
- 71% quisieran que su gobierno hiciera más por regular los negocios, mientras 19% quiere menos acción gubernamental y 7% desea el mismo nivel que ahora.
- 63% cree que la caída de la URSS fue algo bueno; 16% cree que fue malo y el 21% no ofreció ninguna respuesta.

México tiene la mayoría más grande de la encuesta que reclama a su gobierno hacer más para distribuir uniformemente la riqueza. Tiene también mayoría mundial en la visión del capitalismo de mercado libre fatalmente dañado como sistema, seguido de por los franceses. Un alto promedio de mexicanos dijo que el gobierno debe hacer mejor su trabajo de control de industrias importantes y regulación de los grandes negocios.

- Un excepcionalmente alto 38% cree que el capitalismo no tiene remedio y que debe imperar un nuevo sistema económico, mientras 40% piensa que el capitalismo de libre mercado está dañado pero puede ser reparado con reformas. Apenas 2% cree que está sano y que las reformas lo volverían ineficaz.
- 61% cree que el gobierno debe asumir un papel mayor en controlar la propiedad de industrias importantes, en comparación con 17% que prefiere un rol menor y 8% que se inclina por el papel actual.
- 92%, la más alta mayoría entre todos los países encuestados, apoya que el gobierno adopte un mayor protagonismo en la redistribución uniforme de la riqueza.
- Una mayoría de 64% estima que el gobierno debe hacer más por regular los negocios, mientras 14% opina que debe haber menos regulación y 9% se inclina porque siga igual que hoy.
- 54% cree que fue bueno el colapso de la URSS, mientras 4% piensa que fue malo y 43% no proporcionó respuesta.

Panamá está en el promedio mundial que aboga por un rol más activo del gobierno en la intervención de la economía. La mayoría apoya un papel más relevante del Estado en la propiedad y control de industrias importantes, la redistribución de la riqueza y la regulación de los negocios. Pero la cantidad de gente que sustenta estas posiciones resulta relativamente baja en comparación con los otros países latinoamericanos.

- 50% cree que el capitalismo de libre mercado está estropeado pero que puede repararse con regulación más apretada, mientras 26% piensa que está fatalmente dañado y 9% cree que ahora funciona bien.
- 63% apoya que el gobierno asuma un papel más activo en el control o posesión de industrias importantes, mientras 21% apoya un rol más pequeño y 7% se inclina porque el mismo papel del presente.
- 80% -también una mayoría aplastante- piensa que el gobierno debe desempeñar un papel más activo en la redistribución de la riqueza, 12% cree que debe tener un papel bajo y 3% dice que debe seguir igual.
- 71% dice que el gobierno debe asumir un papel mayor en la regulación de los negocios, 16% cree que debe haber menos regulación y 5% dice que debe ser igual.
- 47% piensa que la caída de la URSS fue algo bueno, mientras 17% piensa que fue malo y 36% no proporcionó respuestas.