quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Chris Marker, O "Bricoleur"de Sonhos

quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Level Five -- Chris, o "Bricoleur" de sonhos
Chris Marker, a bola da vez

Nossa indigência intelectual nos leva a consumir com moderação e de forma excludente as influências com as quais que alimentamos nosso conhecimento.

A culpa não é deles, é nossa, do nosso estado de isolamento que nos permite ler parcimoniosamente e acessar moderadamente pensadores que não estão na moda.

Já curtimos Robert Drew, Jonas Mekas, Jean Rouch. As ondas passam. Filmes e autores ficam. A bola da vez é Chris Marker. Vamos a ele.

Nas marés em movimento esteve na moda a repulsa aos filmes com narrativa em off. Acusada de “Voz imperial”a exposição de um autor lida por um ator era repudiada como a peste foi na idade média. Metia medo a nossos autores opinar que assim preferiam se expressar por entrevistados que assim serviam de ventriluquos a sua idéias.

O lançamento recente no Brasil de “La Jetée” e “Sans Soleil”trouxe a tona esse "bricoleur"* fantástico do cinema francês que já opera e revoluciona o cinema desde meados dos anos cinquenta (exatamente, para ser mais preciso 1952 com um filme sobre as Olimpíadas na Finlândia. Depois virá o filme em parceria de Alain Resnais ("Les Statues Meurent Aussi”), os filmes de Resnais que Chris estará sempre presente ( “Guernica”, "Toute La Memoire du Monde", “Nuit et Brouillard") e seus vôos solos ( "Lettres de Siberie, Israel, Description d'un Combat”, “Cuba Si"), até o mais famoso, o filme de ficção científica "futurista", na verdade impregnado de passado, memórias e lembranças, o que bem caracteriza o cinema de Chris Marker.

Construído como uma foto-novela, Marker e Resnais são apaixonados por histórias em quadrinhos, “La Jettée” revela a genialidade de um autor em renovação permanente da linguagem cinematográfica. “Bricoleur”antes de tudo, Marker, um apaixonado pro filmes vai fazer da busca permanente seu estilo. Estará entre os primeiros a trabalhar com câmera 16 mm nos anos 50, Super 8 e video nos anos setenta. Digital nos oitenta.

Mistura de Jules Verne e Marco Polo, Chris viajou e narrou meio mundo a bordo de sua pluma e camêra, de cinema ou fotográfica. Dirigiu a Coleção “Petite Planete” para informar aos viajantes sobre os lugares por onde passariam ou sonhavam passar. Na obra de Chris também existe espaço para o lúdico, para o sonho.

Nestas viagens escreveu e fotografou livros ("Coreénes”talvez seja o mais bonito), imaginou filmes, não realizados (tem umrteir, não filmado, “A América Sonha", primoroso sobre os Estados Unidos). E sobretudo filmou muito.
Finlândia, China, Japão, Rússia (como chamar a Ünião Soviética hoje? Vai Rússia mesmo ainda que tenha estado na Sibéria por exemplo), Israel, Chile, Estados Unidos.

Filmou operários e atletas, frequentadores dos parque de Pequim, o urso Siberiano, os soldados transformando uma marcha militar num baile popular na Cuba de imediatamente pós -revolução.

Chris é o mago da imagem e da palavra, eis a razão de sua importância sempre renovada. Sempre resistindo aos modismos Chris opina em su filme pala propria voz (“Le Fond de Láir est Rouge", pela voz de uma amiga, Florence Delay em "Sans Soleil”(1983), Frsnósis Perier em “Souvenir d'un Avenir”

“Level Five”(1997) é seu filme mais intimista onde mais expõe fragmentos de sua vida, imagens de seu espaço físico e...suas proprias mãos!

Primor de construção dramática, narrado pelo próprio Chris e pela atriz Catherine Belkhodja, Chris monta um jogo de guerra no computador onde revelará imagens , algumas inéditas, outra até então apresentadas de forma incompleta dando sentido ao texto e escritura da história.

Chris , um amante da fotografia (faz um gande declaração de amor em “A América Sonha”), em "Level Five”é extremamente crítico. Em Ämérica Sonha”escreve que a fotografia é a “Caça dos anjos” “Ao invés de matar produz um imortal". Em “Level Five “é impiedoso e mostra o fotógrafo como um caçador disposto a matar. Tanto na sequência do personagem que pretende voar do alto da torre Eiffel com uma roupa "ridícula, parecida com a de Batman". O personagem antes de se atirar rumo a morte dá uma paradinha e Chris registra que olha para a câmera e diz que se a câmera não estivesse ali, ele não teria se atirado.
No final do filme em Okinawa, quando todos recebem ordens de se matarem para não se render aos americanos a sequência que mostra as enfermeiras correndo e se jogando de um precipício registra também uma delas dando uma paradinha e olhando para a C6amera e diante da testemunha não lhe restou outra alternativa senão se jogar rumo ao nada. O impiedoso Chris registra tudo em texto e imagens.

A famosa cena dos soldados de Iwo Jima é desmontada com primor quando ela mostra a verdadeira foto chinfrim da bandeira sendo hasteada, da sua reconstrição mediática e do final trágico do soldado-herói.

Para finalizar a sequência da descontrução de lendas e mitos/ reconstrução de imagens, Marker mostra em "Level Five”uma famosa cena de um camponês correndo pegando fogo e caindo em chamas no chão. Esta cena já foi vista em filmes sobre todas as guerras ocorridas pela ásia. Chris revela que a cena aconteceu durante a Segunda-Guerra Mundial nas Filipinas e que...no plano em seguida onde todos os filmes fabricam um morto, ele levanta, vivíssimo, e continua a correr.

A cena mais corajosa do filme é quando o autor resove expor as viosceras e construir a sequência de um papagaio de pelucia, Cocoloco, e fazer um pausa na história para suas reminiscências pessoais. Longa a sequência, entedia os espectadores mais seguramente dá ao autor a sensação do pleno dominio autoral sobre sua obra.

Esse é um pouco o Chris que gostaria de revelar a vocês. Bom filme a todos

* Bricoleur -- Artesão, faz tudo, improvisa, cria
Postado por FILMEDOC.COM às 10:56

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