domingo, 31 de janeiro de 2010

Cota de Tela X Reserva de Mercado

Artigo que publiquei no JB.
S.T.

1- Target, gap, pitching, modêlo de negócios. Não, não estamos numa
aula de inglês ou de administração. estamos falando de cinema. No Brasil

2-Volta e meio encontro alguém que me pergunta| "porque você não faz um
filme sobre isso" e sugere um tema que já filmei?. E não apenas eu mas
vários filmes já foram feitos e que circularam premiadíssimos em
festivais mas que não conseguem cumprir seu
destino, do encontro marcado com os espectadores numa sala de
exibição deixando frustrados cineastas e espectadores.

As duas mil salas de cinema do Brasil tem a obrigação de durante 28 dias
por ano exibir filmes brasileiros.Estes
28 dias devem ser divididos no minimo por dois filmes o que assegura
duas semanas de exibição por ano por filme e acabou. Quem colocou
colocou. Quem não colocou não coloca mais . Trocando em miúdos
significa que dois filmes exibidos durante duas semanas cada um nas salas de
exibição cumprem a lei que beneficiaria o cinema brasileiro como um todo.
Medida anódina, placebo estéril que na verdade
revela que o cinema estrangeiro tem aqui uma reserva de mercado assegurada
de 337 dias por ano. Se o ano for bisexto 338 dias. Nós contiuamos
olímpicos com nossos 28 dias. O que eles não
utilizarem,volta pra nós então. No final dos anos 80 chegamos a ter
uma cota de tela de 152 dias por ano, que foi extinta quando
chegou-se a conclusão que nacionalismo era pecado e proteção aà
industria, mesmo a cultural era um crime contra a abertura dos portos
às nações amigas.
Adoramos macaquear tudo o que vem de fora exceção das coisas que dão certo
Os Estados Unidos tem a MPA, lobbysta intransigente do cinema
norte-americano e onde Hollywwood sente-se ameaçada ou eles respondem
com retaliação econômica ou em caso extremo desembarcam os marines (
de verdade, em carne e osso ou de cinema). A França faz do audiovisual
um cartão de visitas do país e defende a exceção cultural dentro do
tratado de livre comércio para proteger sua indústria cultural. No
Brasil ainda estamos no meio do caminho.
Hoje são míseros 28 dias incapazes de resolver os problemas do cinema
nacional o tamanho de nosso latifundio nas telas nacionais.

Nesta caminhada, nos perdemos nos labirintos da linguagem e
desaprendemos a nos estruturar com uma linguagem propria. O cinema
Argentino está bem melhor no que tange em relação com a realidade.
O que fazer então com os inúmeros filmes produzidos a cada ano? Como
imprimir nossa realidade nas telas brasileiras? Como enfrentar dois
filmes lançados com mais de 500 copias cada um ocupando juntos e de
uma só vez 95% das salas brasileiras? Como tornar visíveis filmes no
Brasil que sobrevivem enfrentando espremidos os "arraza
quarteirões"(blockbusters para os íontimos) que chegam montados em
farta midia
internacional e bombando na midia nacional?

Hoje temos muito mais perguntas do que respostas. Uma coisa é certa:
temos filmes e autores capazes de caminhar com as proprias pernas,
enfrentando com nossa realidade e tenacidade o desafio de imprimir uma
realidade e um ponto de vista nosso que só nos podemos colocar. Nos
pertence.nossas imagens em telas!!. Pode parecer contraditorio com o
dito no parágrafo anterior e extremamente nacionalista, extemporâneo
numa cultura globalizante mas se não é de contradições que se nutre a
arte, qual será seu alimento principal?

Mesmo com apenas 28 dias de cota de tela é bom fazer cinema no Brasil.

2 comentários:

  1. Fico sempre revoltada com o pouco espaço que existe para o cinema brasileiro no Brasil. Em Osasco,SP, onde (sobre)vivo, há pouquíssimas exibições de filmes nacionais. Ainda ontem vi em um cinema de um shopping daqui que o filme "Lula" estava em cartaz. Fiquei eufórica, mas não havia nem os dias nem os horários em que seria exibido.
    Dirigi-me à bilheteria e perguntei. Sabe qual foi a resposta? O filme só é exibido às 21h, e não sei até quando...
    quer dizer, cumpre-se o número de dias de exibição dos filmes nacionais, mas em que horários?
    Em uma cidade em que a maioria da população é de classe media e de classe que vai de E a Z, com mais de 144 favelas, com todo tipo de dificuldade de acesso - do preço do ingresso ao de locomoção- quem pode se dar ao luxo de ir ao cinema em um horario tão restrito? Poucas pessoas.
    Acho que a luta dos cineastas e dos que amam cinema deveria ser também nesse sentido: exigir que as exibições dos filmes brasileiros sejam em horarios que possibilitem a ida dos trabalhadores, senão fica assim, se exibe, mas em horarios que a maioria da população não poderá ir.
    Depois se diz que a massa não gosta de arte. Desse jeito...
    Risomar Fasanaro

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  2. Caro Silvio,Quando abri a Polytheama, existia uma lei que obrigava toda locadora ter 30% do seu acervo de filmes nacionais. Só eu tinha. Mas acredito que hoje pela grande quantidade que existe de locadoras no país, exigir o cumprimento de uma lei como essa seria bem recomendável. Exigir também que todos os canais televisão, convencional e a cabo cumprisse uma meta similar seria importante. Tudo isto pode ser mais importante, em termos de número de pessoas que assistirão os filmes brasileiros, que será bem maior que nas salas de cinema. Inclusive os filmes devem ser lançados em DVD antes do prazo de 6 meses depois que o filme sai de cartaz. Garanto que se o Luiz Carlos Barreto lançasse agora em DVD o Filme do Lula, ele seria visto por muito mais gente que assistiram no cinema, daqui a seis messes o público que ainda estiver interessado em assistir, pois muitos já assistiram em cópia pirata, será muito pequeno.
    Abraço,Julio

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