domingo, 20 de dezembro de 2009

"Benditos os loucos eles é que herdaram a razão". Glauber Rocha-- Noilton Nunes coloca o dedo na ferida

O FIM DAS TORTURAS NA CULTURA?
A semana que se encerra foi uma das mais felizes para a cultura brasileira.
O Senado aprovou o Vale Cultura e a possibilidade de enquadramento na
qualidade de Simples, para as empresas que atuam no setor com benefícios no
pagamento de impostos. Além disso, ao apagar das luzes do ano, o ministro
Juca Ferreira conseguiu um ousado e corajoso feito, que já o coloca para
sempre em lugar de destaque na historia cultural do Brasil. Entregou nesta
quarta-feira à Câmara dos Deputados o projeto de Lei de Fomento e Incentivo
à Cultura, a Lei Juca, renovando o Fundo Nacional de Cultura, que contará com investimento inicial de R$ 800 milhões e será o principal mecanismo de financiamento a projetos culturais. O ministro também afirmou que a mudança vai garantir maior controle social e oferecerá um aporte direto de recursos, eliminando a etapa de busca por patrocinador. "O fundo é direto na veia. Aprovado o projeto, o produtor recebe o dinheiro", euforicamente disse ele. Isso simboliza que as torturas na cultura para
captação de recursos possam acabar ou que pelo menos os recursos possam chegar democraticamente aos criadores culturais. O modelo segue o que as Ciências e Tecnologias fazem há muitos anos. Se nossos cientistas tivessem tido que ficar horas e horas, dias e dias, anos e anos, nas salas de espera dos torturadores especializados em marketing das grandes empresas, as nossas pesquisas cientificas não estariam tão avançadas como estão, sendo hoje referencias mundiais. Acreditamos que esteja chegando ao fim as chances de continuidade nas aberrações existentes desde o nascimento da Lei Rouanet, como a recente notícia de que a Acadêmicios da Rocinha foi autorizada pelo MinC a captar R$ 2 milhões, assim como os baianos do Bloco do Psirico a conseguir outros R$ 402.545. O carnaval na Sapucaí e o baiano são cada vez mais voltados para turistas e celebridades, atendendo ao que grandes empresas esperam de retorno para seus patrocinios, pois geram enorme visibilidade com as garantidas transmissões dos desfiles pela TV. Fazer atualmente com que um diretor de marketing olhe com bons olhos para um projeto de filme ou uma boa peça que fuja dos padrões mercadológicos e que não tenha artistas globais; que não seja "comercial"... e ainda competir com as escolas de samba... vamos e convenhamos se torna uma competição nada olimpíca e desleal, com o agravante, de conhecimento público, que muitas dessas agremiações carnavalescas, também recebem financiamentos obscuros, nebulosos. Portanto esperamos que tais polemicos incentivos também obtidos para eventos nacionais e ou internacionais, que já vêm carimbados por milionárias campanhas publicitárias, sejam melhor avaliados e que projetos artísticos, culturais, educacionais de maior necessidade para o povo brasileiro, tenham enfim sua hora e sua vez de desfilar nas avenidas, nas escolas, nas universidades, nos nossos cinemas, palcos e televisões, enfeitando, alegrando, milhões de corações e mentes; iluminando pacifica e douradamente nossas

consciências. Que 2010 seja o ano novo da redenção artística e cultural do povo brasileiro. 2010 é 10. Noilton Nunes
O Espelho de Próspero na 1a. Confecom
Em 1988 o brazilianista, ou melhor, o latinoamericanista, Richard Morse publicou seu livro O Espelho de Próspero, onde descreve: “há pelo menos dois séculos um espelho norte americano tem sido mostrado agressivamente ao sul. Talvez seja a hora de se virar esse espelho". É preciso ouvir nessa sentença cheia de provocações, a voz de um norte americano completamente incomodado com sua própria cultura, em especial com a tendência - afinal persistente - de se considerar o resto do mundo e a América Latina em particular, como uma espécie de campo neutro para experimentações, capaz de acolher sem questionar as receitas do desenvolvimento avassalador do gigante do norte.”

Extraído do artigo A paixão latino-americana de Richard Morse, de Pedro Meira Monteiro - Um enigma chamado Brasil - Companhia das Letras.

A necessidade da Conferencia Nacional de Comunicação foi oficialmente aceita pela nova Constituição Brasileira, mas somente agora em 2009 acontece a primeira, por causa da oposição das elites dirigentes da grande mídia. A 1ª. Confecom tem um papel dos mais importantes para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Tal importância deve ser avaliada realmente com essa magnitude pois, abre as portas do povo brasileiro para a necessidade de sua, nossa, conscientização a respeito das mais delicadas questões, que necessitam de urgentes respostas e ações imediatas. Assegurando-se o direito a um sistema nacional de comunicação eficiente, o brasileiro poderá dar bons exemplos ao mundo, pois, quando tem a oportunidade de agir sabendo com clareza onde está pisando, o brasileiro é capaz de mudar e melhorar seus comportamentos. Entretanto, dominado há mais de 40 anos por uma mídia que defende o consumismo desenfreado e que exalta o caminho de vida escolhido por outros povos, o brasileiro induzido, sucumbe, entrega-se e vira massa de manobra, deixando-se bestificar placidamente em berço esplendido.

A 1ª. Confecom trás esperanças de que tal dominação imposta e aceita cotidianamente, até hoje pouco contestada pelas autoridades mais competentes, comece a ser enfrentada, ser sentida, ser ouvida, falada, comentada, discutida, debatida, conscientizada.

Quando essa conscientização atingir um grau normal de comunicação, o brasileiro vai acordar para a anormalidade de fatos que ocorrem no seu dia a dia e que interferem negativamente na sua qualidade de vida. Fatos que até então foram, são, considerados sem importância, como por exemplo, a invasão dos nossos espaços aéreos audiovisuais, com o bombardeio sistemático, perverso, autoritário, antidemocrático, desumano, arquitetado nos gabinetes governamentais das capitais de grandes países, que ainda adotam o imperialismo como forma de expansão de seus negócios, para seus comércios. “Para onde vão nossos filmes, vão nossos produtos...”. Essa sentença cunhada pelo presidente Roosevelt nos anos 40 demonstra o valor que o audiovisual já tinha e a visão política de um grande estadista. Está ainda visível nas nossas televisões e cinemas. Não podemos ficar chorando sobre o leite derramado, mas contra atacar, defendendo os olhos, os ouvidos, os corações e as mentes de nosso povo, principalmente das novas gerações. Ficamos indignados com a instalação de bases militares norte americanas na Colômbia e não nos damos conta de que programas como Tela Quente, Sessão da Tarde, Domingo Maior e ou Super Cine, funcionam como bases ianques no Rio de Janeiro. Em São Paulo, outro centro poderoso de comunicação televisiva nacional, também ocorre o mesmo fenômeno, imitando a Tv Globo, emissora constituída com capital do Time Life e abençoada pelo regime militar. Todas as que fazem parte da chamada tv privada, exibem todos os dias, de manhã, de tarde, de noite e de madrugada, produtos made in USA, vendedores do falido american way of life e o que é pior, na sua maioria, filmes subsidiados pela indústria bélica. Algumas perguntas devem ser feitas agora. Por que a elite dominadora dos meios de comunicação televisiva nacional ficou tão dominada, tão amarrada, tão serviçal a elite dominadora dos meios de comunicação internacional? A 1ª. Confecom tem também mais esse compromisso histórico, o de nos libertar dessa ditadura, desse conchavo, dessa opressão. Queremos ver nas nossas televisões nossos filmes, nossos documentários, nossos curtas, considerados dos melhores do mundo e também uma diversidade artísitica e cultural internacional que nos mostre exemplos de lutas, exemplos de busca por caminhos mais saudáveis de vida de outros povos e não ficar para sempre com antolhos, como burros de cargas.

Quando Obama vem com o discurso de que as guerras são justificáveis, imediatamente as ações da indústria bélica sobem nas bolsas de valores de todo mundo. A corrida armamentista entra novamente em moda e o obviamente os roteiristas de Hollywood entram em campo, para lançar logo no mercado, filmes e mais filmes aplaudindo as guerras. Daqui do sul maravilha temos que dizer não. Dar adeus às armas, à violência. Devemos pelo menos tentar transformar nosso continente na região mais pacifica do planeta. Tarefa difícil, mas não insuperável. Primeiro cada país latino americano precisa vencer seus brutais desafios internos e suas misérias seculares. Somente com um sistema de comunicação decente, sabendo melhor quem somos e o que queremos, poderemos contribuir para uma transparente distribuição das nossas riquezas; acabar com o analfabetismo e a fome; acabar de vez com a necessidade das barracas cobertas de infernais plásticos pretos nos inumanos acampamentos de beira de estrada, fazendo a tão esperada, desde a Lei Áurea, reforma agrária em todos os níveis, seja na terra, seja na tela.

Comunicando-nos livremente, sem receios, sem obstáculos; dialogando abertamente, saberemos como enfrentar os imensos desafios que assustam todas as pessoas, em todos os lugares do Brasil e solidariamente participar dos movimentos mais nobres que acontecem atualmente no mundo, como os que defendem o meio ambiente.

Comunicação é saúde. Comunicação é possibilidade de boa educação. Comunicação é uma das mais poderosas armas de construção ou eliminação em massa. Os povos que bem souberem manejar tais mísseis de longo alcance; tais bombas atômicas de efeito moral, saberão chegar mais facilmente a uma forma saudável de sustentabilidade.

Se Morse, respeitado intelectual norte americano, mostrou 21 anos atrás o que o espelho de seu povo já fazia ao invadir as nações latino americanas, hoje, com o avanço das novas tecnologias, precisamos ficar muito mais atentos e nos defendermos com muito mais vigor.

Noilton Nunes



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